Por Ana Cláudia Esquiávo
Hoje, preparamos um presente para os
fãs de histórias sobrenaturais. A autora da série Mais Além da Escuridão contou
em entrevista concedida para o Literaleitura como se inspirou para escrever o
M.A.D.E com o autor Johnatan Souza e a expectativa de ter visto o seu
romance Elos do destino ser adaptado
para os cinemas.
Editora da Ler Editorial e membro do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes
de Buenos Aires, Catia fala sobre a sua inspiração para escrever fantasia e seu
processo de criação.
Literaleitura - Como surgiu a ideia de escrever M.A.D.E?
Cátia Mourão - M.A.D.E.
surgiu de uma forma muito espontânea. Eu já escrevia textos em espanhol para um
blog, usando o pseudônimo de Carlie Marie, que posteriormente se tornou a
personagem central da saga, e o vampiro Donovan Hunter, que aparece no conto de
abertura do meu livro: Contos e Poemas Góticos de Carlie Marie. O Johnatan
também já tinha criado o personagem do anjo caído John Fallen. Então, um belo
dia, estávamos conversando e eu sugeri: E se nós juntássemos nossos personagens
em um livro? Ele adorou a ideia e foi assim que tudo começou.
L - Você escreveu a série de fantasia Mais além da escuridão ou M.A.D.E
com o autor Johnatan Souza. Como é escrever em parceria?
Cátia - Escrever
em parceria é um processo bem complicado, principalmente levando em conta que
eu vivo no Rio de Janeiro e o Johnatan em São Paulo. É preciso muita disciplina
para desenvolver um projeto longo como M.A.D.E. à quatro mãos. Por isso, nos
mantermos fiéis ao roteiro foi fundamental durante a criação da saga.
L - como você conheceu o autor Johnatan Souza?
Cátia - Conheci o Johnatan através das redes sociais. Nós frequentávamos os
mesmos grupos de leitores e escritores, e por incrível que pareça, só nos encontramos
pessoalmente pela primeira vez quando o primeiro livro de M.A.D.E. ficou
pronto.
L - Qual foi a sua inspiração para escrever
fantasia?
Cátia - Difícil ser
específica sobre isso. Desde menina, sempre gostei de fantasia, era uma das
minhas leituras preferidas. Acho que foi um caminho natural escolher esse
gênero para escrever.
L -
Os seus livros possuem alguma playlist? As músicas lhe inspiram para escrever?
Cátia - Meus livros
geralmente são embalados por música. Gosto de usar as músicas para enfatizar os
trechos que considero mais importantes. Acho que assim os leitores conseguem se
conectar mais rápido com a emoção que dos personagens e com o que eu quero
transmitir para eles em determinados momentos da trama. M.A.D.E. tem uma
playlist que reúne todas as músicas que estão nos 3 primeiros volumes da série.
Ela está disponível para os leitores no YouTube. Ela é bem variada, mesclando o
rock do Nightwish a Set Fire To The Rain, da Adele.
L - Como foi ver seu livro Elos
do destino, reeditado pela editora Ler Editorial em 2015 ser adaptado para
o cinema? Tem previsão para o lançamento nas telas?
Cátia - É muito gratificante ter um livro roteirizado. Acho que todo autor sonha
em ver seus personagens ganhando vida nas telas dos cinemas. Infelizmente, o
projeto está parado na fase de pré-produção, por conta das imensas dificuldades
econômicas que nosso país atravessa. Mas ele não foi engavetado, estamos apenas
esperando a melhor hora para retomá-lo. Por isso, ainda não existe um prazo
para que o filme se torne realidade.
L - Como é o seu processo de
criação? Possui predileção por algum horário?
Cátia - Sou
uma autora bem metódica. Trabalho sempre com um roteiro, onde defino todos os
pontos importantes da trama. Traço os perfis psicológicos dos personagens,
defino as descrições físicas, faço todo o trabalho de pesquisa necessário para
o desenvolvimento da história, incluindo as ambientações que pretendo usar no
texto e a música que vou inserir para dar ênfase naquele trecho especialmente
emocionante que o personagem está vivendo, e só depois começo a escrever. E
tenho algumas manias. Gosto de escrever de madrugada e quando estou trabalhando
preciso de silêncio total.
L - A
paixão pela escrita surgiu quando você ganhou exemplares de Ilíada e Odisseia
de Homero. Quando nasceu a escritora profissional?
Cátia - Era
fim de tarde de um dia qualquer de 1997. Eu estava dentro de um ônibus, parada
na frente de um shopping. O ponto estava cheio de gente que esperava para
entrar e lembro exatamente o que chamou minha atenção: um casal discutia perto
do ponto, mas dava para perceber que apesar da briga havia amor naquela
relação. E pronto! De repente, estava eu criando toda uma história para eles em
minha mente, que culminava com aquela briga. Foi tão espontâneo que eu senti
necessidade de escrever sobre aquilo. Só tinha um problema: naquela época os
celulares não tinham os recursos de hoje. Ao menos, não o de uma moça de vinte
e poucos anos, de classe media, que andava de ônibus pela Barra da Tijuca.
Então, usei o único recurso que estava disponível e comecei a escrever no verso
da nota fiscal de algum produto que eu tinha comprado e que, por acaso, ainda
estava na minha bolsa. O papel era pequeno e o balanço do ônibus não ajudava em
nada, mas pelo menos não perdi a ideia original da história. Foi assim que
surgiu a novela romântica "Elos do Destino", meu primeiro texto de
dramaturgia.
L - Quais os
desafios de um escritor iniciante quando ele resolve se lançar na carreira
literária? O que ele pode esperar do mercado editorial?
Cátia - Primeiro, é
importante que o autor esteja preparado para enfrentar críticas e receber
muitos 'nãos', porque, a não ser que você seja o próximo genial autor, até
então desconhecido, que acabou de escrever o livro que será o futuro grande
best seller do momento, muitas editoras vão recusar seu trabalho ou tentarão
extorquir verdadeiras fortunas por uma publicação. Existem algumas que para
lançar um novo autor, chegam a cobrar quase o preço de carro popular zero
quilômetro. Não caia nessa! Na maioria das vezes, esse tipo de investimento não
traz o retorno esperado. Se você pretende investir na sua carreira, pesquise
muito, procure saber quais editoras realmente trabalham em prol do autor. É
comum as editoras cobrarem para publicar um autor desconhecido, até porque as
despesas para construir o nome de um autor são muito grandes e a editora não
tem nenhuma garantia de retorno, mas ninguém precisa vender um carro por causa
disso. Outra coisa que os autores iniciantes precisam ter em mente é que uma
carreira não se constrói da noite para o dia. Isso leva tempo e exige muita
dedicação, tanto por parte do autor quanto do editor que abraça sua obra. Uma
vez o Eduardo Spohr comparou esse tempo a um curso universitário, daqueles que
duram 6 anos, e ele tem razão. O sucesso de um autor, em geral, leva essa tempo
para se solidificar, ou até mais. Então, não tenha pressa, invista na qualidade
do seu trabalho e seja persistente. Essas são minhas dicas.
L- Quando você
se tornou editora da Ler Editorial?
Cátia - Estou à frente da Ler Editorial há dois anos e
meio, tempo de existência da editora.
L- A Ler Editorial publica
exclusivamente autores nacionais. Como esses escritores poderiam se destacar em
um cenário onde há muita valorização da literatura estrangeira?
Cátia - Nós
acreditamos que esse é um tabu que está caindo. Muitos leitores estão começando
a descobrir que temos autores tão talentosos quanto os estrangeiros. Hoje, não
é raro encontrar livros de autores nacionais expostos nas livrarias mais
conceituadas. Mas é claro que um trabalho de qualidade é fundamental para que o
autor se destaque. Por isso, sempre oriento os autores que desejam realmente se
profissionalizar, que invistam no trabalho de pesquisa, estudem os variados
tipos de construção de texto, as diferenças de estilo literário e tudo mais que
é necessário para se tornar um bom escritor. Vejo muitos autores nacionais que
ainda dizem escrever por puro instinto e é aí que nós ainda perdemos. Aqueles
que conseguem entender a importância de se dedicar a escrita com seriedade, em
geral, são os que se destacam.
L- A Ler editorial possui o selo Jovem Ler,
onde publica histórias voltadas para o público infantojuvenil. Você acredita
que os adolescentes de hoje estão lendo mais?
Cátia - Esse é um fato
incontestável e comprovado por números. Pela primeira vez em nosso país,
estamos formando uma geração de leitores. No meu tempo, não existiam espaços
atrativos para crianças e adolescentes nas livrarias, por exemplo, livraria era
lugar de adulto. Éramos obrigados a ler apenas textos clássicos na escola, o
que ao invés de despertar o gosto pela leitura, acabava afastando o aluno.
Leitura passava a ser, para a maioria, uma tarefa chata. Hoje, muitas escolas
optam por trabalhar com obras contemporâneas, adotando literatura de gênero
para criar o hábito da leitura em seus alunos e isso vem dando ótimos
resultados.
L- Atualmente,
plataformas de leitura gratuitas como o Wattpad podem lançar muitos talentos da
literatura, mas quais os desafios que esse autor pode encontrar em um cenário
onde também há reclamações de plágio e pirataria?
Cátia - As plataformas de leitura
gratuita são uma ideia genial, mas é preciso encontrar métodos de filtragem que
realmente deem segurança as obras publicadas, porque o número de plágios, assim
como os textos inadequados e de baixo qualidade, crescem a cada dia.
Infelizmente, acho que ainda estamos longe que alcançar o tão sonhado controle
nessas plataformas. Existe muito material bom, de qualidade, sendo pirateado e
muito material de péssima qualidade também. Isso é ruim porque acaba nivelando
todos por baixo e fomentando uma legião de leitores que consomem textos ruins
só porque são gratuitos. É preciso investir em uma tecnologia mais eficiente,
que proteja tanto os autores quanto os próprios leitores.
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